sábado, 30 de julho de 2011

COLUNA MARCIO NEVES DE SENNA - Sobre democracia, cidadania e sociedade civil


"...Para falarmos em democracia no Brasil precisamos aprofundar o debate, ou seja, abordar o tema fundamentando a democracia ao remetê-la ao seu instrumento de acesso conhecido como “cidadania” e que basicamente acontece em três áreas: civil, política e social.

Na esfera civil, se por um lado os mecanismos de acesso nos permitem hoje admitir a hipótese da construção de ações que reconheçam as individualidades físicas, mentais e emocionais como legítimas e autênticas, por outro lado, ainda vemos que em pleno século XXI, pessoas são vítimas de abusos como, por exemplo, o famoso bullying, termo esse que designa agressão. Assim como existe o bullying entre pessoas poderia haver entre instituições e sociedades? Dominantes sobre dominados? Talvez. Todavia, é uma questão de interpretação e o que importa é a idéia central do texto em questão referente à esfera tratada.

Na esfera política a participação do povo no poder é uma possibilidade, sem sombra de dúvidas, uma oportunidade transformadora e vantajosa, mas que atualmente sofre diretamente o impacto da alienação provocada pelas classes dominantes que trabalham diligentemente, através de seus recursos, principalmente na mídia, impondo sua cultura e segregando cada vez mais as classes existentes, além de fabricar o consenso por trás de uma pseudo-democracia, causando a ilusão de uma participação efetiva.

Na esfera social o discurso de que o povo possui o direito de participação da riqueza produzida por ele mesmo ou que a dignidade de uma vida se dá através do acesso aos bens como: saúde, seguridade, educação, transporte etc., na prática tem demonstrado que a desigualdade social cresce cada vez mais, ao produzir as mazelas observadas por todos indiscutivelmente.

Somado a tudo isso percebemos que existem diversos discursos provocados por diversos grupos de interesses que em prol de seus ideais particulares ocasionam diversos entraves numa qualidade democrática mais ampla para toda a sociedade. Podemos observar isso em diversas instituições de nossa sociedade, tais como: igrejas (quando se restringe apenas a finalidade dogmática e doutrinária), escolas (enquanto reproduzir a ideologia da classe dominante), empresas (quando o compromisso é apenas com a obtenção de lucro), sindicatos (quando estão a serviço das classes dominantes) etc.

Além de tudo o que foi abordado anteriormente, pesa sobre nossa sociedade uma péssima referência histórica que não pode ser deixada de lado, é o fato de que no ano de 1888 ocorreu o advento da abolição da escravatura, mas a nossa sociedade omissa, apenas criminalizou o racismo a partir da constituição de 1988, ou seja, um atraso moral de 100 anos.

Sem querer cometer qualquer espécie de anacronismo, o que se destaca aqui é que ainda estamos atolados ante o processo de uma autêntica democracia. É claro que em termos históricos somos ainda uma sociedade recém formada e, com certeza, atualmente avançamos muito mais em relação ao processo democrático que no passado, mas, sem dúvida alguma, estamos ainda muito distanciados, na prática, do que o discurso teórico nos diz que alcançamos ou pensamos ter alcançado. Entre o real e o ideal, existe um abismo profundo..."

SENNA, Marcio Neves de. - Cientista Social
Universidade Luterana do BRasil - ULBRA

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